faça
de conta
que o amor
é copo d'água
basta-lhe a sede
e não o mar
Graça Vilhena (Teresina) é uma poetisa piauiense participante da “Geração
Mimeógrafo” ou “Geração 70", escritora participante dos
movimentos culturais dos anos 70 à atualidade.
O GARRAFEIRO / graça vilhena
o garrafeiro era apenas um homem
que sobrava das ruas
também sujo de terra e esquecido
como as garrafas e cacos no quintal
suas mãos de cuidado
tangiam aranhas, lagartixas
e vez por outra
um escorpião afiado
depois arrumava as garrafas
lado a lado
âmbares, azuis, verdes, transparentes,
num arco-íris pobre
"essas são de vinho tinto"
dizia-me ele embriagado de vazios
e as de fundo côncavo serviam
para pescar piabas no Poti
o mundo é duro e frágil, eu aprendia
mas nele lições pequenas eternizam
piabas prateadas nas garrafas
como rutilos presos nos cristais
que sobrava das ruas
também sujo de terra e esquecido
como as garrafas e cacos no quintal
suas mãos de cuidado
tangiam aranhas, lagartixas
e vez por outra
um escorpião afiado
depois arrumava as garrafas
lado a lado
âmbares, azuis, verdes, transparentes,
num arco-íris pobre
"essas são de vinho tinto"
dizia-me ele embriagado de vazios
e as de fundo côncavo serviam
para pescar piabas no Poti
o mundo é duro e frágil, eu aprendia
mas nele lições pequenas eternizam
piabas prateadas nas garrafas
como rutilos presos nos cristais
OUTUBRO
O amor acabou
mas é outubro
e respiro o perfume desse alívio
como se respira os lírios
e a flor da sapucaia.
O
amor acabou
meu coração passeia
por sobre as veias quentes das calçadas
bebendo o sangue dos cinzeiros
se avivando nos pau-darcos.
meu coração passeia
por sobre as veias quentes das calçadas
bebendo o sangue dos cinzeiros
se avivando nos pau-darcos.
O
amor acabou
mas é outubro
meu coração amadurece doce de sol
nos cajus e mangas-rosas
da cidade.
mas é outubro
meu coração amadurece doce de sol
nos cajus e mangas-rosas
da cidade.
POEMA COMUM
"A moça do sim entrou no bar
olhou em volta, o coração em flor
enfeitava-lhe os cabelos
cuspiu semente de noites pelos olhos
e preparou a boca ardentemente
para os beijos mudos.
Desapareceu na noite
gargalhou a madrugada
e voltou sozinha na manhã
Tentou encarar seu destino
no ralo da pia
mas o peso da lágrima
foi mais forte
transfigurada
recolheu o coração
murcho de engano
fugiu no sono
e sonhou que vivia."
olhou em volta, o coração em flor
enfeitava-lhe os cabelos
cuspiu semente de noites pelos olhos
e preparou a boca ardentemente
para os beijos mudos.
Desapareceu na noite
gargalhou a madrugada
e voltou sozinha na manhã
Tentou encarar seu destino
no ralo da pia
mas o peso da lágrima
foi mais forte
transfigurada
recolheu o coração
murcho de engano
fugiu no sono
e sonhou que vivia."
Maria das Graças Pinheiro Gonçalves Vilhena é formada em
Letras pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), tem especialização em
Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica,PUC/SP. É
Professora de Língua Portuguesa. Atualmente,
dá aulas no Instituto Dom Barreto, lecionando Literatura Clássica, conhecida
por sua rigorosidade e avaliações de alto nível de dificuldade.