segunda-feira, 19 de março de 2012

Zózimo Tavares Mendes

História da sociedade dos poetas trágicos

Dez homens, dez histórias entremeadas de poesia. Dez vidas que se foram rapidamente, dez obras que marcaram para sempre a literatura do Piauí.

Em “Sociedade dos Poetas Trágicos” (sim, sim, a inspiração para o título veio do filme do Peter Weir), o jornalista Zózimo Tavares traça perfis de dez poetas piauienses que viveram pouco mas deixaram obras intensas, belas, atemporais.


Quando li as biografias e alguns dos poemas do livro, só de imaginar o sofrimento daqueles homens senti lágrimas nos olhos. Pensei na dor de um cara de 19 anos que sente a vida ir embora a cada tosse, a cada escarro. Me refiro a José Newton de Freitas, morto aos 19 anos, vítima de tuberculose. Sua poesia é cheia de tristeza, desespero e urgência. 

Tavares comenta que a literatura brasileira reconhece Álvares de Azevedo como o poeta que morreu mais jovem, aos 21 anos. “Mas José Newton já é considerado por alguns críticos como o mais jovem porque morreu aos 19, deixando um trabalho marcante. O que acontece é que sua obra ficou muito aqui, quase não é conhecida fora. Tem especialistas que o vêem como o introdutor do Modernismo no Piauí, reconhecem em seus versos todas as características da poesia moderna”.


O livro é resultado de uma longa pesquisa e o autor diz que foi encontrando tantas histórias trágicas de poetas que teve que achar um critério de limites. “Os poetas trágicos do Piauí não são só dez, temos muitos mais, inclusive vivos. Nosso maior poeta vivo, o H. Dobal, convive há anos com o mal de Parkinson, que é uma tragédia na vida dele. Outro grande nome da poesia piauiense, Da Costa e Silva, viveu 16 anos sem saber quem era, por causa do Alzheimer. Resolvi então delimitar o livro pela idade, escolhi dez poetas que morreram antes dos 40 anos, quando estavam no auge de sua produção literária”.

Morte que assusta e fascina

É curioso perceber um certo fascínio pela morte na obra dos poetas escolhidos por Zózimo Tavares. Todos eles, ao menos uma vez, 
... CONTINUA



sábado, 17 de março de 2012

Judson Barros

 
Uma coletânea que nos apresenta o grito do Cerrado devastado e ferido mortalmente. Um grito que ecoa junto com o gemido das terras, das águas e dos povos do Cerrado. Gritos e gemidos que apelam para a resistência e a luta dos camponeses e das camponesas. Chico Mendes afirmava que “Só poderão salvar a Amazônia os Povos da Amazônia” e nós podemos acrescentar que não haverá salvação do Cerrado sem os Povos do Cerrado. 

A estratégia planetária com relação à agricultura concentra, hoje, os seus investimentos nas únicas áreas “agricultáveis”, que sobram na Terra; a maioria delas está no Brasil e correspondem aos dois ecossistemas maiores do País: A Amazônia e o Cerrado. É aqui que permanecem populações e economias ameaçadas de destruição. É aqui que poderia se dar uma luta pela terra, não norteada por uma concepção quantitativa dela, mas por uma visão qualitativa do território propiciada pelas economias agro-florestais e agroextrativistas tradicionais. E inspirada pelo projeto de convivência com os territórios: convivência respeitosa da Criação de Deus e alternativa à irracionalidade do atual modelo de desenvolvimento capitalista.

Dom Xavier Gilles - Bispo de Viana - Presidente do Regional CNBB Nordeste V


LEIA MAIS: http://ecosdocerrado.zip.net/
PAPELÃO: SUZANO  

Judson Barros – Militante da causa ambiental, Escritor e Presidente da ONG Fundação Águas. 

sexta-feira, 16 de março de 2012

quarta-feira, 14 de março de 2012

Climério Ferreira


Nasceu em Angical do Piauí. Poeta e letrista, publicou os livros Memórias do Bar do Pedro e Outras Canções, Canto do Retiro, A Gente e a Pantasma da Gente, Essa Gente e Artesanato Existencial.
Gravou (com os irmãos Clodo e Clésio) os LPs São Piauí, Chapada do Corisco, Ferreira, Profissão do Sonho, Clodo/Climério/ Clésio e Afinidades, além do CD-solo Canção do Amor Tranqüilo.
É parceiro dos irmãos Clodo e Clésio e de Ednardo, Dominguinhos, Naeno, Antonio Adolfo, Antonio Celso Duarte, Passoca, Celso Adolfo, Lázaro do Piauí, Netinho da Flauta, Julio Medeiros, Aloísio Brandão, Petrúcio Maia, Evelise Fernandes e outros; tem músicas gravadas por Dominguinhos, Ednardo, Nara Leão, Fagner, Tim Maia, Elba &malho, Amelinha, Mastruz com Leite, Trio Virgulino, Marlui Miranda, Maurício Mattar, Naeno, Silvinha Araújo, Guadalupe e com o grupo Flying Banana.

No link logo aqui embaixo você vai conhecer um pouco mais da vida e da obra deste poeta e compositor.Seu trabalho como letrista é reconhecido pelos admiradores da música popular brasileira. Respeitado pelos seus parceiros e intérpretes, que encontram em Climério um autor de poemas e letras que integram o sentimento do brasileiro do Nordeste, onde ele nasceu, do Centro, onde cresceu e do Sul, onde morou e se lançou na música junto aos seus novos parceiros...

MAIS DE CLIMÉRIO FERREIRA, AQUI

terça-feira, 13 de março de 2012

Curral de Serras


Alvina Fernandes Gameiro é piauiense de Oeiras, onde nasceu a 10 de novembro de 1917, e faleceu em Brasília, a 13 de agosto de 1999. Fez seus primeiros estudos em Teresina-PI, seguindo, mais tarde, para o Rio de Janeiro, onde se formou em Artes Plásticas pela Escola Nacional de Belas Artes, e, posteriormente, graduando-se pela Universidade de Colúmbia, NY – USA. Professora, romancista, contista, poetisa e pintora. Pertenceu à Academia Piauiense de Letras, cadeira nº 14-patrono: Cônego Raimundo Alves da Fonseca, grande tribuna sacro e brilhante latinista. 

Os Pais da escritora piauiense se chamavam Antônio Pedro Fernandes e Vitória Fernandes. 
Alvina Gameiro teve quatro irmãs: Maria, Luciana, Glória e Maura. 
O funileiro português Antônio Pedro Fernandes foi uma pessoa estimada no seu meio, que veio para o Brasil antes da 1ª Grande Guerra, e fixou-se em Belém, e depois foi contratado pelo governo do Piauí, para montar máquinas de Fabricação de laticínios. E escolheu a Chapada do Corisco, Teresina, em 1922, para fixar a sua residência, em caráter definitivo. E, na Cidade Verde, no dizer de Coelho Neto, viveu trinta e um anos, trabalhando com afinco e amando os necessitados, a quem socorria com dinheiro e refeição. Sua morte, ocorrida no ano de 1953, é uma prova eloqüente do seu amor ao próximo, pois o povo humilde, mendigos e velhos choraram copiosamente pelas ruas de Teresina a sua morte! 

MAIS DE ALVINA GAMEIRO AQUI
Caricatura: João de Deus Netto – picinez@gmail.com


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CAPA DE MINHA AUTORIA

Contato: picinez@gmail.com 



segunda-feira, 12 de março de 2012

Ramsés Ramos


Ramsés Bahury Ramos nasceu em Teresina, Piauí, em 1962, descendente de família de músicos. Viveu em Brasília e trabalhou nas Nações Unidas, como chefe do Cerimonial e de Relações Internacionais. Viveu também na Tchecoeslováquia e na Espanha. Faleceu na Rússia em 1998.
Lançou seis livros de poesia: Dois Gumes (1981), com Rosário Miranda; Envelope de Poesia (coletivo); Dança do Caos (1981), com Kenard Kruel, Eduardo Lopes, William Melo Soares e Zé Magão; Percurso do Verbo (1987); Baião de Todos (coletivo, 1996); e Poemas da Paixão (Praga, 1992).

SETE PECADOS DO AMOR

o melhor amor é o que não faz alarde
(mar como arde)
ao melhor amor nunca se esquece
(mas quem merece?)
melhor amor sempre tem dinheiro
(onde, o banqueiro?)
o melhor amor é desinteressado
(todo mundo é culpado!)
melhor amor jamais atraiçoa
(desse se caçoa)
o melhor amor te amará eternamente
(quanto se mente!)
o melhor amor, enfim, de tudo abdica
(esse, com quem fica?)

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HAI KAI DA ESPERA
(ao Mário Quintana)

enquanto você
guarda e aguarda
eu aguardente
(Teresina,02.09.87)

HAI-KAI DO AMANHECER

a ponta do dia
feria o horizonte:
amanhecia ...
(1987)

domingo, 11 de março de 2012

dEsEnrEdoS

Adriano Lobão Aragão nasceu em Teresina, Piauí, em  1977.  Formado em Letras pela UESPI, leciona língua portuguesa e literatura na rede particular de ensino de Teresina. Mestrando em Literatura pela UESPI. Fundador da revista amálgama, publicação dedicada à literatura. Em 1998, através do Concurso Novos Autores, recebeu o Prêmio Cidade de Teresina pelo livro Uns Poemas, publicado no ano seguinte pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves. Em 2005 publicou Entrega a Própria Lança na Rude Batalha em que Morra, pela Fundac. Seu livro Yone de Safo foi agraciado em 2006 com prêmio Torquato Neto instituído pela Fundação Cultural do Piauí e publicado pela amálgama no ano seguinte. Publicou ainda as cinzas as palavras (amálgama, 2009) e ave eva (dEsEnrEdoS, 2011). Participou das coletâneas Versos Diversos (Passos/MG), Poetas do Brasil 2000 (Porto Alegre/RS) e Estas Flores de Lascivo Arabesco, poemas eróticos piauienses (Teresina/PI). Atualmente, edita o site dEsEnrEdoS e o blog Ágora da Taba.

entre folhas a parreira

mas de tua tez aflora
mais que evidente elegia
de fruta e aurora
e uva talvez teus seios
ou tua vulva
que entre folhas a parreira
sementes espalha
e de tuas mãos sobrepostas
como se a si segurasse
suavemente em essência
sendo o próprio pomo
o que emana teu âmago
em colheita inteira
somente em si

Leia  ave eva em PDF


terça-feira, 6 de março de 2012

Análise de Um Manicaca, de Abdias Neves

A obra Um manicaca, de Abdias Neves, foi composta com a intenção de documentar Teresina no apagar das luzes do século XIX e combater as práticas e a fé religiosa da coletividade e ainda algumas doutrinas do Catolicismo. No fim do século registrou: os animados festejos da igreja de N.S. do Amparo, de foguetório e namoricos. As festas de aniversário nas residências, quando os amigos chegam de surpresa, sem aviso: forma-se o baile, dança-se, bebe-se e fala-se da vida alheia. As alegrias públicas com o reconhecimento, pelo governo, dos parlamentares eleitos. O São João festivo, com o boi e fogos de artifício. Serenatas madrugadinas. As sentinelas em casa de defunto.
Caricatura do escritor Abdias Neves
Registrou a moda do tempo: a bengala, a flor na lapela, o leque, o chambre, o cabelo à escovinha. Não esqueceu os tipos: o acendedor de lampiões, o cangueiro dágua, nem certos hábitos como o rapé, as cartas anônimas, a vida noturna dos homens nos botequins. 


O Adultério: outra temática de evidência no romance, o adultério é uma crítica à instituição do casamento. Este aspecto é típico do Realismo-Naturalismo, desenvolvido por Machado de Assis e Aluisio de Azevedo. Júlia trai o marido com o sócio deste, Luís Borges, com quem tivera um rápido namoro na juventude. A relação adúltera é o comentário de toda a cidade, mantendo-se assim um casamento de aparências. Araújo, cada vez mais submisso aos desejos da mulher, torna-se um joguete em suas mãos, vindo a descobrir o fato próximo da fuga dos amantes. Todavia, aceita conformado, por ter necessidade da presença de Júlia. 


A obra foi publicada em 1909, embora escrita entre os anos de 1901 e 1902, e é a primeira expressão do romance de costumes da literatura piauiense, embora o escritor, documentando a época vivida pela capital piauiense e nos tempos finais do século XIX e alvorecer do XX, pretendesse sustentar as suas ideias anticlericais e o seu ateísmo, condenando os ritos, crenças e processos religiosos da Igreja Católica. Mas é também uma história de pecadores, numa cidade tomada de preconceitos, num tempo em que os ministros de Deus mais condenavam práticas do que educavam os espíritos. Era a exigência da época. A exigência dos costumes, a exigência das mentalidades.
Nota: Manicaca era um termo utilizado em Teresina, no final do século XIX e início do século XX, para designar os homens controlados pela mulher. Abdias Neves usou o referido termo para denominar este romance.
Créditos: Jordan Bruno, Professor de História, Graduado pela Universidade Estadual do Piauí |Colégio Pró-Campus | Pedro Vilarinho Castelo Branco, Doutor em História, membro permanente do Programa de Pós-Graduação em História da UFPI.
Capa: João de Deus Netto, para a Fundação Quixote


LEIA UMA ANÁLISE COMPLETA DE UM MANICACA
E TAMBÉM UMA CRÍTICA 

ALGUMAS CAPAS DE MINHA AUTORIA NA LITERATURA PIAUIENSE.

Capas encomendadas e devidamente negociadas. As edições ficam a cargo dos Editores/Escritores.




Fonseca Neto

A díade do título é dessas típicas formulações indicativas de bons enredos, ficcionais ou não. É o caso do romance de Eneas Barros há pouco tempo lançado à fruição do leitorado. 

O turco e o cinzelador – a comovente história que marcou as portas da igreja de São Benedito”: trata-se de uma criação literária inspirada em história real, no caso, a vida e drama de Sebastião Mendes de Souza, o artista que entalhou as portas da igreja de São Benedito, ainda no Oitocentos. Portas que são o único bem do gênero tombado pelo Patrimônio Artístico Nacional em Teresina –agora noutros gêneros foram tombados a Ponte Metálica e a Floresta Fóssil.

Ler o romance é conhecer algo sobre a vida dele, um piauiense quase absolutamente desconhecido, apesar da especial relevância de sua principal obra artística já referida. É conhecer mais sobre o contexto e cotidiano teresinense do tempo em que ele viveu – pois o autor é, igualmente, um dedicado pesquisador nas fontes primárias da história local.

Fonseca Neto é Historiador professor da UFPI e advogado.
Capa: João de Deus Netto

O campeador Cineas

bilhete

Perdão moça:
hoje não falo de mim
das vezes que tentei
das lutas que perdi...
Estou partindo
para o próximo sonho
queres ir?

Cineas Santos

Cineas pertence à família dos líricos com humor – como Bandeira e Quintana. Há em seus versos uma inata vocação para a ternura, principalmente nos poemas amorosos que, afastando-se do queixume ante a ausência da amada, celebram a possibilidade do encontro: “hoje não falo de mim,/ das vezes que tentei,/ das lutas que perdi./ Estou partindo para o próximo sonho/ queres ir?”. Aliás, quem conhece o autor e sua famosa rusticidade, lendo os seus poemas desfaz-se do mito: trata-se de um mandacaru com espinhos de água e pétalas.
Salgado Maranhão – poeta e letrista

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Esquecido de si, na tarefa que se impôs de divulgar a beleza e as virtudes do Piauí, Cineas Santos mal se lembra de que dentro dele mora um poeta sensível e exigente. Por isso, publica tão pouco. Feito um garimpeiro avarento, esconde as belas pepitas que vem recolhendo durante estes anos todos. Só lá de vez em quando, concorda em exibir algumas das preciosidades que vem recolhendo pela vida.
Paulo José Cunha - jornalista e poeta

Capa: 765comunicação - Ilustrações: Gabriel Archanjo

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

JÁ NA GRÁFICA!

Medicina e Poesia
A neurologia afirma que ‘o lobo
límbico possui um importante papel nas emoções’,
e foram as emoções vivenciadas nas dificuldades
próprias do mister: a dor, o sofrimento, a perda, a
incerteza, a incapacidade, a morte, a luta a favor da
vida, noite e dia, que me levaram a escrever uma
poesia predominantemente existencialista, é a
minha experiência de vida. Muitos poemas, a
princípio, foram escritos em receituários, quando
afloravam nos intervalos de plantões médicos. As
doenças advêm do desequilíbrio no tripé mente-corpo-
alma, como preconiza a visão holística em
medicina, e poesia é remédio para a mente e para a
alma: 'A constituição íntima da poesia ajuda muito
como analgésico serve para as dores da
alma' (Álvaro de Campos). Assim, conclui-se que
medicina e poesia não são atividades antagônicas.
João de Carvalho Fontes

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Li e reli Voz e Verso. Cada poema
expressa uma emoção nova. Gosto do lírico, do
aconchego das palavras. Não demore muito para
publicar. Está pronto e perfeito!!!! - (Ilza Bezerra)


CAPA: João de Deus Netto

Eneas Barros

O momento havia chegado. Levantou-se cuidadosamente e foi até o quintal apanhar o machado que estava recostado sob o pé de pitomba. Trouxe-o para dentro de casa e o escondeu sob a cama do seu quarto. Voltou à sala, para certificar-se de que as mulheres continuavam dormindo. Retornou ao quarto, pegou o machado e voltou novamente à sala. Olhou mais uma vez para a tia e para a prima. Aproximou-se com cautela e cuidados para não fazer barulho. Segurou com firmeza o cabo do machado. O relógio marcava 15:50.
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Este livro aborda o crime e seus desdobramentos, pois muito pouco se sabe sobre o passado da menina, aqui chamada de Ema para preservar o seu anonimato. Os parentes também tiveram os nomes omitidos, bem como a cidade onde o crime aconteceu. Os demais personagens e lugares foram retratados fielmente.
Para contar essa história, tive acesso a documentos do processo e a jornais da época. Conheci a casa onde ocorreu o crime. Conversei com pessoas que estiveram presentes aos instantes imediatos após o drama desesperador, naquela fatídica tarde de novembro de 1998. Observei o ambiente e pude sentir a plenitude da cena, a rua calma, a casa sombria, a janela inspiradora, o quintal tenebroso, a sala macabra e o pavor das testemunhas. Todos os elementos ainda pulsavam pelas paredes, como se adquirissem vida para contar uma história que abalou os moradores daquele bairro pacífico.

Twitter do autor: @eneasbarros 

Compre o livro direto pelo e-mail: eneas@piaui.com.br
Custo R$ 25,00 + postagem.


Capa: João de Deus Netto

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Retrato de um Artista quando Jovem


Halan Silva

            Reporto-me ao título de uma obra de James Joyce (1882-1941) A portrait of the artist as a young man (Retrato de um artista quando jovem) para falar do romancista piauiense O. G Rego de Carvalho (1930) que, em 1967, envolveu-se numa acalorada polêmica literária veiculada em dois importantes órgãos da imprensa local, os jornais O Dia e O Piauhy, à época sob a responsabilidade de Leão Monteiro e de José Camilo da Silveira Filho, respectivamente.

A polêmica teve início quando O. G. Rego de Carvalho, sabendo que Dom Avelar Brandão Vilela (1912-1986) pretendia criar uma faculdade de filosofia em Teresina, publicou em março de 1967, no jornal O Dia, o artigo Convite à humildade. Nesse artigo, defendeu a ideia de que somente metade das vagas de professor da faculdade de filosofia deveria ser preenchida por piauienses. Necessariamente, a outra metade deveria ser ocupada por professores oriundos da região sudeste. Para O. G. Rego de Carvalho, deveria prevalecer aqui algo semelhante ao que prevaleceu durante a fundação da Universidade de São Paulo (USP) em 1934, ou seja, a contratação de renomados professores estrangeiros, como foi o caso do etnólogo Claude Lévi-Strauss (1908-2009), do historiador Fernand Braudel (1902-1985), do geógrafo Pierre Monbeig (1908-1987), do filósofo Jean Maugüé (1904-1985) e do sociólogo Roger Bastide (1898-1974), todos integrantes da missão francesa que aportou no Brasil em 1935. Do outro lado da querela, mormente, sob pseudônimo (Vespasiano, Ayres, Conselheiro Acácio), respondiam aos artigos de O. G Rego de Carvalho importantes intelectuais da cidade: Clemente Honório Parentes Fortes, M. Paulo Nunes e Valdemar Sandes (Carlos Eugênio Porto era parte na polêmica, mas optou por não responder às críticas de O. G Rego de Carvalho). Não tardou para que a polêmica perdesse o foco, as respostas a O. G. Rego de Carvalho passaram a não mais versar sobre questões ligadas à fundação da faculdade de filosofia, mas sobre a qualidade da obra de estreia de O. G. Rego de Carvalho na literatura, o romance Ulisses entre o amor e a morte (1953) que, em 1967, achava-se em sua segunda edição[1]. Embora tenha sido bem recepcionado por críticos e escritores consagrados, no Piauí o romance Ulisses entre o amor e a morte foi duramente atacado. No Brasil, a introdução de novas mentalidades nos meios acadêmicos parece algo quase sempre tardio e dificultoso. Em seu Antes del fim, Ernesto Sábato noticia que o filósofo Schiller (1759-1805) e o astrônomo Hartmann(1882-1959) lecionaram numa das mais tradicionais universidades da Argentina, na Universidad de La Plata.

A polêmica alcançou seu termo em outubro de 1967, quando O. Rego de Carvalho, no artigo Não Ceder, Lutar sempre, despede-se de seus leitores e anuncia sua partida para a cidade do Rio de Janeiro. A vida de O. G Rego de Carvalho foi marcada por dois fatores, a precocidade e a atuação. Entre 1949 e 1950, na casa dos vinte anos, ao lado de H. Dobal (1927-2008) e M. Paulo Nunes (1925), dirigiu o Caderno de letras meridiano, que era o reflexo de uma onda de publicações literárias encabeçadas por jovens escritores. Em depoimento, o poeta Ferreira Gullar (1930) declarou-me que, em São Luís do Maranhão, nesse mesmo período, ele e Lago Burnett (1929-1995), lançaram três revistas:Saci (1948), Letras da Província (1949) e Afluente (1950) e, que, paralelamente, José Sarney (1930) e Bandeira Tribuzzi (1927-1977) fizeram uma revista literária intitulada A Ilha. Quando saiu o terceiro e último número do Caderno de letras meridiano, em 1950, Lago Burnett veio a Teresina e manteve um ligeiro contato com os diretores do Caderno de letras meridiano.


No Rio de Janeiro, O. G Rego de Carvalho deu curso à sua carreira literária. Publicou suas obras num dos mais importantes registros editoriais do país, a editora Civilização Brasileira, e conquistou, com o romanceSomos todos inocentes (1972), obra escrita deliberadamente para calar seus detratores, que afirmavam que O. G Rego de Carvalho só escrevia sobre si mesmo, o cobiçado prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras[2]. De volta ao Piauí, O. G Rego de Carvalho, nos anos setenta, envolveu-se em mais uma polêmica literária, desta vez com intelectuais da Academia Piauiense de Letras (a questão versava sobre a existência ou a não existência de uma literatura piauiense). Enquanto a saúde permitiu, O G. Rego de Carvalho revisou e cuidou pessoalmente de sua obra literária. Durante anos, sem impor nenhum ônus a seus leitores, distribuiu seus livros na intenção de difundi-los o máximo possível, uma vez que as escolas (públicas e privadas) e a Universidade Federal do Piauí não valorizavam satisfatoriamente os autores piauienses.


Diversamente do que costuma acontecer no Piauí, em face da boa receptividade de que dispõem os escritores gaúchos não são constrangidos a deixar os pagos do Rio Grande do Sul ou a ganhar prêmios literários excepcionais. Confirma o que eu digo a trajetória literária de Érico Veríssimo (1905 - 1975), de Josué Guimarães (1921 - 1995), de Mário Quintana (1906 - 1994), de Dyonélio Machado (1895 - 1985), de Luís Fernando Veríssimo (1936 - ), de Augusto Meyer (1902 - 1970), de Raul Bopp (1898 - 1984), de Lila Ripoll (1905 - 1967), de Cyro Martins (1908 - 1995), de Luís Antônio de Assis Brasil (1945 - ), de Moacyr Scliar (1937 - 2011), de Caio Fernando Abreu (1948 - 1996) e de tantos outros que não convém citar por agora. Não tivessem Da Costa e Silva (1885 - 1950), O. G. Rego de Carvalho (1930 - ), H. Dobal (1927 - 2008), Assis Brasil (1930 - ), Carlos Castelo Branco (1920 - 1993), Francisco Pereira da Silva (1916 - 1985), Permínio Asfora (1913 - 2001), Esdras do Nascimento (1934 - ), Mário Faustino (1930 - 1962), Álvaro Pacheco (1933 - ) e Torquato Neto (1944 - 1972), a despeito do talento e da tenacidade, ganhado prêmios literários ou sido aclamados nos grandes círculos literários do país, talvez hoje restassem no lugar destinado à maioria dos escritores piauienses - no ostracismo. Portanto, o pior lugar para um escritor piauiense é o Piauí.

[1] Ulisses entre o amor e morte foi incluído no volume Amor e morte(1957), edição que foi desautorizada pelo autor.

[2] Os escritores, sobretudo aqueles cuja obra merece ser lida e relida, não fizeram outra coisa que não escrever sobre si mesmo. Para Mário Quintana toda confissão não transfigurada em arte é canalhice.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

DA COSTA E SILVA

Antonio Francisco da Costa e Silva, o maior poeta telúrico do Piauí, nasceu em Amarante a 23 de novembro de 1885. Estudou o primário em sua terra e partiu para o Recife, onde cursou Direito. Ingressou no Ministério da Fazenda, depois de concurso, onde serviu como fiscal do Tesouro Nacional. Nesse cargo percorreu São Luís, Manaus, Porto Alegre e São Paulo, onde, após os períodos da Revolução de 1930, tratou de regularizar as emissões de bônus criados pelo Governo Central.

A poesia de Da Costa e Silva assenta-se em duas escolas: Simbolista, interpretada nos poemas de Sangue, e Parnasiana, que determinou a fixação de seus poemas. Apreciado poeta do seu tampo, Da Costa e Silva é a maior força da poesia telúrica do Piauí. Sobre ele assim se expressa Silveira Bueno: "Se o primeiro livro (Sangue, 1908) ainda oferecia alguma influência simbolista, já no segundo (Zodíaco) se firmava como verdadeiro parnasianismo, com reflexos de Verhaeren. Foi a melhor obra de toda a sua produção." Silveira Bueno conheceu Da Costa e Silva em São Paulo, comentando mais tarde em História da Literatura Luso-Brasileira (Edição Saraiva, 1968) que o cantor de Amarante e Saudade tinha traços vincados de mongolóide, e já estava doente por este tempo. Para Wagner Ribeiro "a poesia de Da Costa e Silva traz luminosa exaltação e um inebriamento comunicativo". Mário Rodrigues chega a compará-lo em grandeza com Edgar Allan Poe, Cruz e Sousa e Álvaro de Azevedo. Arimathéa Tito Filho define-o como "alta afirmação da poesia simbolista nacional".

SAIBA MAIS: http://culturadopiaui.vilabol.uol.com.br/dacosta.htm

http://picinez-piaui.blogspot.com/p/edmilson-raquel-100-anos.html